Ilissínio Duarte
A Rua Formosa foi um dos projectos de João de Almada e Melo em 1784. A ideia foi de uma ligação da Cancela Velha a Santa Catarina, no local da Viela da Quinta. Posteriormente, cortando Santa Catarina, seguiu a Rua Formosa até ao Padrão das Almas, junto da Capela de Santo André que existia desde 1497, em cujo local foi a Feira da Erva. O Largo de Santo André crismou-se de Praça dos Poveiros em homenagem a pescadores portuenses que estavam no Brasil e recusaram a imposição da cidadania brasileira. A Rua Formosa embora já aberta em 1813, era mais estrada do que rua, pois casas havia muito poucas. Com os tempos, e já há muitos anos, além de via urbana, e cheia de casas, é uma das ruas mais poluídas do Porto, dado continuar a ser estrada de movimento contínuo. A Travessa da Rua Formosa era Viela da Neta e vinha desembocar à Rua Formosa em frente ao Palácio do Conde do Bolhão, com o n.º 342. Já há anos o visitei e já não era moradia condal, e o conde parece que acabou mal. Esteve lá no edifício a Empresa do Bolhão L.da, com litografia, que já muito não está lá. Tem o edifício uma bonita capela, com estuques em relevo dos martírios do Senhor. Está destinado a Escola das Artes do Espectáculo, com um daqueles cartazes ilegíveis da CMP, à espera de deferimento. O Conde do Bolhão, António Alves de Sousa Guimarães, primeiro foi feito barão, e depois conde, pela Rainha D. Maria II, que se hospedava em casa do conde quando vinha ao Porto. Camilo não suportava o conde e citava um baile de convites difíceis... e que ganharam os ourives?. Acerca dos banquetes Camilo dizia: 800 dentaduras supriam em velocidade a beleza que lhes faltava. Disse ainda em 1860 que se perdeu a riqueza social. A condessa queixava-se de maus tratos psicológicos do marido. Camilo dizia que não seria tanto assim mas que era a família da condessa que a obrigava a tal procedimento. Uma filha dos condes casou com um filho do Marechal Saldanha. Na Rua Formosa, 125, esquina com a Rua da Alegria, temos o magnífico Palácio dos Viscondes de Pereira Machado. Muitos de nós já lá fomos ao edifício, há bastantes anos, tirar o Bilhete de Identidade Arquivo de Identificação; depois Tribunal da Relação, e já há alguns anos a Liga dos Combatentes, que amavelmente me deu a conhecer o Palácio. O visconde de Pereira Machado, de seu nome Guilherme Augusto Machado Pereira recebeu o título em 1861 por mercê do Rei D. Pedro V. Para além desse título era Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Moço Honorário da Real Câmara Municipal do Porto, Comendador da Ordem de Cristo e da Rosa, do Brasil. Presidente da Associação Comercial do Porto. Fez parte da empresa que ergueu o Palácio de Cristal. Nasceu em 8.4.1822, faleceu a 14.4.1868, sendo sepultado na Lapa. Foi casado com D. Cândida Guilhermina dos Santos Vieira Rodrigues Fartura, sendo seu pai também Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Comendador das Ordens de Cristo e Conceição. O 2.º Visconde, filho do primeiro, Guilherme Augusto Pereira Machado, era amador de cavalos e equipagens e foi cavaleiro exímio e experimentado picador e um elegante da época. Foi também Cavaleiro da Casa Real, nascido em 1865, falecido em 1930, tinha casado em 1904 com D. Rosa Furtado de Antas. Atrás falei nas diversas utilizações do palácio. Uma delas tribunal. Foi-me dado ver o salão nobre, que foi tribunal. Um tecto duma beleza inesquecível pela sua magnificência e óptimo estado. Os edifícios que confinam com as traseiras e vão até aos Poveiros, julgo terem sido construídos em terrenos do Palácio. E vem-me à memória que há mais de 50 anos conheci um indivíduo que tratava de um picadeiro ao cimo da Rua de Passos Manuel, e fico-me a interrogar se haveria ligação desse picadeiro com o antigo 2.º Visconde de Pereia Machado.