Antero Frias Moreira *
No domingo, dia 15 de Abril, a estação televisiva SIC, emitiu um documentário com o sugestivo título O Código de Cristo (porventura inspirado no best-seller de Dan Brown O Código da Vinci): O Túmulo Perdido da Família de Jesus" convenientemente precedido durante vários dias de apelatíva propaganda visual e nos rodapés dos noticiários, a fim de despertar a curiosidade para um sempre fascinante tema - o ataque á crença cristã. Realizado por James Cameron (realizador do filme "Titanic") e Simcha Jacobovici também protagonista do documentário. A obra basicamente sustenta que segundo as conclusões de "estudos" por eles agora efectuados, um túmulo descoberto em 1980 na região de Talpiot (sul de Jerusalém) conteria os ossários de Jesus Cristo, Sua Mãe, irmãos, Maria Madalena, bem como de Judas, filho de Jesus e de Maria Madalena! Assim sendo, este "achado" deitaria por terra os alicerces da Cristandade - a Divindade e a Ressurreição de Jesus Cristo!
Tendo efectuado pesquisas sobre o assunto desde que tomei conhecimento da emissão do programa nos U.S.A., no Discovery Channel, em 4-3-2007, como cristão e defensor da verdade, sinto-me no dever de sucintamente divulgar os aspectos ficcionais e a realidade da questão, a fim de que as pessoas fiquem devidamente informadas.
I - A ficção
1 - Em 1980 foi descoberto um túmulo em Talpiot, nos arredores de Jerusalém, contendo 10 ossários, entre os quais alguns possuíam inscrições como: José, Jesus filho de José, Maria, Mariamne e Mara, Mateus e Judas filho de Jesus.
De acordo com o parecer do académico François Bovon, tendo como base um manuscrito do séc. XIV referindo conteúdo dos textos apócrifos dos Actos de Filipe, do séc. IV, a inscrição Mariamne e Mara significaria Maria a Mestre, podendo corresponder a Maria Madalena.
2 - Um dos ossários supostamente desaparecido do museu Rockefeller de Jerusalém para onde os ossários foram removidos e na posse de um negociante de antiguidades judeu, teria a inscrição: Tiago filho de José e irmão de Jesus.
3 - Com toda esta "coincidência" da reunião num túmulo dos supostos nomes dos familiares de "Jesus Cristo", solicitaram ao matemático Andrey Feuerverger da Universidade de Toronto que, com estes pressupostos assumidos como verdadeiros, fizesse um calculo de probabilidades - assim sendo, a probabilidade de no túmulo de Talpiot se encontrar a família de Jesus era de 600 para 1.
4 - O túmulo e os ossários possuiriam inscrições de carácter simbólico (nomeadamente V invertido, círculos e "cruzes") de uma suposta comunidade judaico-cristã primitiva.
5 - Foram efectuados testes de ADN a resíduos recolhidos dos ossários "Jesus" e "Mariamne", que teriam comprovado ausência de consanguinidade por via materna, logo como se encontravam no mesmo local seriam marido e mulher. Também os testes efectuados ás amostras de Patina (resíduo biológico e mineral acumulado ao longo do tempo) recolhidos dos ossários "Jesus" e "Tiago" teriam evidenciado permanência no mesmo local.
Assim sendo, teriam sido os autores deste documentário os génios da arqueologia que 27 anos depois descobriram e anunciariam ao mundo aquilo que teria passado ao lado de experientes arqueólogos de Israel como o professor Amos Kloner, Shimon Gibson, Joe Zias, Y. Rhamani, o arqueólogo de estudos bíblicos americano William Dever e muitos outros eruditos.
II - A realidade
Logo após o anúncio da emissão televisiva do documentário no Discovery Channel dos U.S.A, numa conferência de imprensa em Nova York em 26 de Fevereiro, houve de imediato uma forte contestação por parte de arqueólogos, académicos de estudos religiosos, bíblicos e de escritas antigas e que ainda continua.
Analisemos então o que dizem os verdadeiros peritos:
1 - No túmulo de Talpiot foram descobertos 10 ossários contendo ossos não de uma, mas de pelo menos três gerações.
As inscrições continham nomes extraordinariamente vulgares para a época: 1 em cada 4 mulheres eram Maria ou derivados, 1 em cada 10 homens eram Jesus, José etc.
Eram indivíduos da Judeia, os quais tinham na inscrição tumular o nome do pai Jesus. Cristo, sendo da Galileia, teria na inscrição Jesus de Nazaré e não Jesus filho de José (os Galileus eram conotados com uma localidade)
Além disso o túmulo pertencia a uma família abastada de Jerusalém e não a uma pobre família da Galileia como foi a de Jesus Cristo.
De referir também que nos ossos encontrados no ossário "Jesus filho de José" os arqueólogos não encontraram sinais de crucifixão, contrariamente ao achado arqueológico de Giv-at-mitvar em 1963, onde foi descoberto um esqueleto com evidência de crucifixão.
Mesmo que se encontre um ossário com a inscrição Jesus contendo um esqueleto com sinais de crucifixão, isso não prova que se trate de Jesus Cristo, pois em 70 AD., aquando da revolta dos Judeus, as autoridades Romanas procederam a crucifixões em massa - é pois de presumir que algum (s) Jesus tenha (m) sido crucificado (s).
Naquela região foram encontrados cerca de 100 ossários com a inscrição Jesus e 4 com a inscrição Jesus filho de José.
Os despojos ósseos após terem sido estudados foram entregues às autoridades religiosas para sepultamento segundo o ritual judaico.
2 - De acordo com os peritos em inscrições antigas, nomeadamente o Professor Stephen Pfann da Universidade da Terra Santa - Jerusalém, a inscrição no ossário que os autores do documentário afirmam ser de Maria Madalena deverá ler-se Mariame kai Mara (Mara é a abrevíatura de Marta), correspondendo a 2 pessoas (de que se desconhece o parentesco).
3 - Uma comissão de 15 peritos da Autoridade das Antiguidades de Israel que analisaram a inscrição no suposto ossário de 'Tiago filho de José e irmão de Jesus" concluíram por uma falsificação moderna.
Contrariamente à afirmação no documentário de que esse ossário teria desaparecido do museu Rockefeller, tal não corresponde à verdade, consoante refere o arqueólogo Joe Zias, curador do citado museu até 1997 e que estudou os achados em primeira mão.
4 - No que concerne ao cálculo probabilístico, assim sendo, a relação cai para um numero nfinitamente pequeno!
5-A inscrição à entrada do túmulo em V invertido não tem qualquer significado hermético, apenas indica um local tumular.
Os círculos nos ossários são apenas elementos decorativos, e quando em relevo, para facilitar a preensão no transporte.
As supostas cruzes são apenas indicativos direccionais para colocar as tampas dos ossários.
6 - De acordo com o professor Steven Cox, arqueólogo forense da Universidade da Terra Santa, quer os testes de ADN, quer os testes da Patina efectuados no documentário careceram do rigor técnico adequado, tratando-se pois de pseudo-ciência para impressionar o espectador.
Além disso o próprio Dr. Carney Matheson do departamento de antropologia de Thunder Bay-Ontario, o qual efectuou os testes de ADN (mitocondrial e não nuclear) para o documentário, afirmou posteriormente: "As únicas conclusões que tiramos foram que não havia consanguinidade materna nas 2 amostras. Para mim isso não significa absolutamente nada!"
Também por que motivo não se efectuaram testes de ADN a amostras de outros ossários? Segundo o citado professor Steven Cox referindo o depoimento jurídico em Israel do perito de renome mundial professor Kumbrein sobre o controverso ossário de Tiago " ... esta evidência (estudos de superfície) prova que o ossário de Tiago esteve num meio totalmente diferente das condições conhecidas do Túmulo de Talpiot".
Sendo pois completamente refutados os argumentos falaciosos do documentário, a única e legítima conclusão que poderemos tirar é a dos arqueólogos que em 1980 estudaram o achado: O Túmulo de Talpiot era de uma família abastada de Jerusalém e não da Sagrada Família.
Para saber mais:
www.avI611.org; www.biblicalfoundations.org; www.bleepingherald.com; www.claudemariotti.com; www.christianinformatio.org; www.curtisvillechristian.org; www.driimwest.wordpress.com; www.goarch.org; www.24hourforums.com; www.jpost.com; www.joezias.com; www.leaderu.com; www.theopedia.com; www.uhl.ac; www. wikipedia.org; www.wnyreligion.net.
* Médico